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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

REFLEXÕES: EU E A ESCUTA SENSÍVEL

Muitas vezes quando criança eu me percebi incapaz de estreitar ao meu semelhante laço de amizade por não saber lhe dar com pessoas com necessidades especiais, naquela ocasião poucas famílias assumiam publicamente seu filho na condição de deficiência física ou intelectual. Penso que como forma de proteger seu filho (a) dos olhares preconceituosos ou desdenhosos, por parte de outras pessoas.

Nessa época conforme SASSAKI por volta de 1970 à sociedade utilizada a nomenclatura “os defeituoso” que denotava “indivíduos com deformidade “(principalmente física)”. [...], ”os deficientes” denotando “indivíduos com deficiência” física, intelectual, auditiva, visual ou múltipla [...] e “os excepcionais” terminologia usada para “os indivíduos com deficiência intelectual” [...], hoje a terminologia usada é “pessoas com deficiência” (SASSAKI, 2006, p. 2 e 5).

Recordo que quando por volta dos meus sete anos assistia à televisão - que era a sensação do momento - a um determinado programa infantil terminou e deu inicio então a outro que abordará a superação de uma moça muito bonita por sinal, que não possuía os dois braços – braços e antebraços -, eu então no primeiro momento me condoí pela sua deficiência, depois fui ficando feliz por vê-la fazendo atividades que na minha cabeça seria impossível que ela fizesse.

A protagonista do documentário, (não me recordo o seu nome), contudo, ao rememorar esta cena a vejo vestida em calça comprida, blusa de lã de gola alta, descalça e me parece que seus cabelos eram curtos. O narrador falava sobre a superação dessa moça em executar atividades do cotidiano que geralmente são feitas por meio das mãos.

O que mais me chamou a atenção foi o fato dela executar as tarefas com os pés, ela lavava a louça com uma facilidade que parecia estar fazendo com as mãos, assim era cozinhar, ela sentava-se em algo que era mais alto que o fogão e cozinhava (acredito que era arroz), varria a casa, apanhava o lixo esticava a cama. Com certeza havia uma série de atividades que ela fazia, porém a memória me trai. Essa moça era casada, seu marido não possuía alguma deficiência.

Meu sentimento foi de apreço e torcida pelo seu sucesso. Tenho essa compreensão após a leitura do texto: O que é escuta sensível: Um tipo de escuta próprio do pesquisador-educador segundo a 'abordagem transversal’ (Barbier, 1997). O autor menciona os autores Krishnamurti, (1994) e Sérgio da Costa Borba, (2001), que fazem referencia a escuta sensível onde esta se (a) ampara na empatia, (b) reconhece a aceitação incondicional de outrem e a (c) coerência do pesquisador (d) e é sempre “multirreferencial". Penso que já naquele momento me coloquei no lugar daquela moça, e tentei perceber e viver o mundo a partir dela, de alguma forma a compreendi e a aceitei.

Contudo por sermos seres humanos somos falhos e somente na adolescência comecei a ver com mais freqüência pessoas com algum tipo de deficiência. Mais uma vez percebia ter empatia e torcia por sua recuperação, e comecei a perceber a figura da mãe que no geral possui um amor incondicional, contudo eu possuía uma deficiência: meu corpo era aprisionado no medo de ser interpretada pela mãe como um uma intrusa na relação mãe e filho. Havia também a insegurança de não saber proceder corretamente, ante a situação e acabar por magoá-los e por isso apenas discretamente olhava e pedia a JESUS CRISTO que de alguma forma amenizasse as dificuldades de ambos.

Quando finalmente fui mãe pela primeira vez, me percebi muitas vezes pedindo a JESUS CRISTO pela saúde integral de meu filho, e nesse momento me coloquei no lugar de uma mãe de filho com alguma deficiência. Pensava muitas vezes PAI, se meu filho tiver que nascer com algum tipo de deficiência que seja a cegueira, por que ai eu cedo um olho para ele e ele vai poder viver normalmente.

A insegurança os medos eram diversos até o nascimento de meu filho, quando o vi pela primeira vez e constatei que ele não possuía limitações físicas fiquei descansada, em meu pensamento ficava a interrogação: Será que é deficiente mental? E os primeiros meses foram de observações e intervenções constantes para perceber sua reação ante alguns procedimentos. Meu coração acalmou-se quando ele tinha aproximadamente dois aninhos de idade. Agradeço muito a JESUS CRISTO, pela saúde de meus três filhos e neta.

Tempo depois quando fui trabalhar em uma empresa de Telemarketing pude perceber a presença de uma senhora que em visita a empresa observava o salão enquanto era acompanhada por uma das supervisoras. Essa senhora era presidente de uma Associação de Deficientes, a empresa em parceria com essa Associação empregava pessoas com deficiências, na ocasião soube da existência do CAS (Central de Atendimento ao Surdo).

Era uma central de atendimento destinada a pessoas com deficiência auditiva, fiquei muito curiosa e de tanto ir para o CAES para saber sobre o seu funcionamento e atendimento, nos meus minutos de descanso, fui destinada a aprender o manuseio do equipamento (diferenciado) para cobrir os minutos de lanche das operadoras, já que eram apenas três posições de atendimento. Eram PA’s (Posição de Atendimento) pagas, ou seja, para o funcionamento desse serviço a empresa “X” pagava para a contratada disponibilizar o serviço de atendimento 24 horas por dia.

Com o passar o tempo eu fui ficando cada vez mais tempo nesse atendimento até começar a tirar férias das operadoras. No inicio tive muita dificuldade com o manuseio da aparelhagem, e principalmente com o lhe dar com o deficiente auditivo. Eu recordo que em muitas conversas ouvia as meninas dizerem há momentos que você tem que ter uma postura mais segura, eles são pessoas como a gente a diferença é que não escutam ou muitas vezes são apenas mudo, no mais não há nenhuma distinção entre eles e nós.

Confesso que eu não me via sendo tão segura assim frente a determinadas situações reais e foi ai que eu comecei a trabalhar a minha escuta sensível um trabalho sobre o eu mesma. Hoje quando eu encontro crianças com algum tipo de necessidade especial, em algum local eu me aproximo, inicialmente fico observando, trocando sorrisos, se percebo que serei bem aceita então me aproximo e dou atenção a criança e ouço algumas vezes história de dificuldades, superação por parte da mãe.

Tenho ainda muitos monstros dentro de mim, que estão sendo banidos, à medida que me aproximo de alguma forma, de pessoas que muitas vezes querem apenas o que lhe é direito “que essa sociedade tenha uma escuta sensível e que respeite antes de tudo o seu direito ser humano, de ser cidadão”. Além de que: qual o ser humano que é perfeito? E qual ser humano é isento de ter alguma deficiência? Nunca esqueçamos o mundo gira, e podemos mudar de lugar, de situação e a qualquer momento.

Edna Gomes

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“Seus filhos não são seus filhos.

São os filhos e filhas da vida, desejando a si mesma.
Eles vêm através de vocês, mas não de vocês.
E embora estejam com vocês, não lhes pertencem.
Vocês podem lhes dar amor, mas não seus pensamentos,
pois eles têm seus próprios pensamentos.

Vocês podem abrigar seus corpos, mas não suas almas,
pois suas almas vivem na casa do amanhã,
que vocês não podem visitar, nem mesmo em seus sonhos.

Vocês podem lutar para ser como eles,
mas não procurem torná-los iguais a vocês.
Pois a vida não volta para trás, nem espera pelo passado.
Vocês são o arco de onde seus filhos são lançados como flechas vivas.

O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito
E ele curva vocês com Seu poder, para que suas flechas possam ir longe e rápido.

Deixem que o seu curvar-se na mão do arqueiro seja pela alegria:
Pois mesmo enquanto ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que é firme."

Kahlil Gibran